terça-feira, 13 de dezembro de 2016

WENDY NO DIVÃ: REVOLTA-TE, RAPARIGA!



WENDY DARLING Demasiado responsável, adulta antes do tempo, excessivamente permissiva e abnegada, convencional até na aparência, a filha mais velha dos Darling não parece ter grande história. Mas, sem ela, não saberíamos quem é Peter Pan.


Chegou a vez de Wendy se deitar no divã que tomou a liberdade de adoptar o seu nome. O caso de Wendy Moira Angela Darling, quando comparado com os de outros personagens, desde o psicótico Barba-Azul até à insuportavelmente narcisista Rainha Má da Branca de Neve, não parece representar grande perigo para a sociedade. Afinal, a ideia de prolongar a adolescência é apelativa para muitas personalidades; e há sempre uma (ou um) Wendy de serviço para fazer o papel de mãezinha. A vantagem da codependência é que ninguém fica a ganhar, certo? A nossa Wendy Darling é uma querida, e J. M. Barrie descreve-a com bastante profundidade. Há quem defenda o seu protagonismo na história, mas o glamour vai todo para Peter Pan. É ele quem a convida para contar histórias na Terra do Nunca, tarefa que Wendy assume com gosto, ao mesmo tempo que se mantém «muito ocupada a costurar» e a tratar de «cozinhados [que] a obrigavam a não tirar o nariz da panela». Cumprindo os seus deveres, torna-se imprescindível, e pelo meio apaixona-se por Peter, que «detestava todas as mães, excepto Wendy». O idílio não vai durar sempre. Movida pelos remorsos, Wendy regressa a casa, levando os irmãos e os Meninos Perdidos consigo. Casará, terá filhos e esquecerá como se voa. Quando volta a ver Peter Pan, já tem mais de vinte anos: sente-se «desprotegida e culpada, como uma adulta». Wendy, querida, qual seria o teu destino se tivesses enveredado pela pirataria?



(Último texto da série «Wendy no Divã», publicado na edição 143 da LER. No próximo número, a sair brevemente, começa a série «Grandes Viajantes», dedicada às personagens mais aventureiras da literatura para os mais novos – e não só.)

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