domingo, 13 de novembro de 2016

ADEUS, OLHO DE RELÂMPAGO


Esta é Dharma, a husky que entrou na pele (ou devo dizer no pêlo?) de Malik, o cão-lobo do meu livro. Morreu no passado domingo, com 14 anos, e tenho a certeza de que nunca lhe faltou amor. Conheci-a no verão de 2012, quando andava a escrever o Irmão Lobo. Precisava desesperadamente de ver um husky de perto, ir além da pesquisa enciclopédia, e pedi ajuda pelo Facebook. Várias pessoas me responderam, amavelmente, entre as quais o Mário Rufino, que se prontificou a apresentar a (sua) Dharma. Combinámos encontrar-nos no Vale do Silêncio, aqui perto de casa, e passeámos os quatro pelos trilhos do parque; a Ana e o Mário a explicarem-me, com toda a paciência, que os huskies não ladravam (ou raramente ladravam), mas produziam um som que depois descrevi como «um uivar soletrado, uma espécie de código morse dos huskies». Era parecido com a fala do Chewbacca, do Star Wars, insistia o Mário. Eu, burra, fiquei na mesma; foi preciso conhecer a Dharma e a sua estupenda família para colmatar essa falha cinéfila. Bom, então lá seguia ela, muito tranquila no seu andar gingão, sem me conceder a graça de um olhar, um olharzinho que fosse. Só quando o Mário lhe disse qualquer coisa é que a deusa levantou a cabeça e me encarou, fulminando-me ali mesmo, implacável; nem dez segundos aguentei a profundidade daquele azul-estalactite. Digo-vos, é preciso coragem para acolher os olhos de um cão. Agora que a Dharma se foi embora deste mundo, repito a pergunta que fiz ao Malik, seu irmão lobo: «Em que pradarias corres agora, Olho de Relâmpago? Solta o teu ladrar de trovão para eu saber onde estás.»

1 comentário:

Anónimo disse...

Triste noticia. Amei esse ser como fosse carne da minha carne. Alma gemea. Mais uma estrelinha que brilha na noite. Um dia irá guiar me quando chegar a minha hora.