sexta-feira, 8 de julho de 2016

LEITURAS DE FÉRIAS, 9: OS BEBÉS DA ÁGUA


Publicada em 1863, numa crítica implícita à Revolução Industrial, a obra maior de Charles Kingsley faz parte do cânone da literatura para crianças. Um «conto de fadas para um bebé terreno», chamou-lhe o autor, apresentando o seu herói na primeira frase: «Era uma vez um pequeno limpa-chaminés que se chamava Tom.» O que começa por soar como uma intriga dickensiana (as aventuras de Oliver Twist tinham surgido três décadas antes), reveste-se de contornos mágicos quando aparece uma certa figura feminina: a mulher irlandesa que se revelará como «a rainha de todas as fadas, e talvez do que está para além delas». Ao imprimir a sua subjetividade e expor uma visão do mundo em que se cruzam as ideias do Socialismo Cristão, do misticismo das folktales e da fé nas conquistas da ciência, Kingsley produziu uma obra tão excêntrica como ele: um homem capaz de acreditar, simultaneamente, nas teorias revolucionárias de Darwin, de quem era amigo, e ser capelão da devota Rainha Victoria. Sem reprimir um exorbitante e arrevesado simbolismo, bem como comentários críticos aos seus contemporâneos e muitas deambulações filosóficas, Os Bebés da Água leva-nos por caminhos intrigantes, em que as notas do tradutor Júlio Henriques fornecem pistas valiosas. Uma edição da Tinta-da-China.

1 comentário:

Jardim de Mil Histórias disse...

Olá Carla,
Gosto das suas sugestões de leituras de férias.
Este especificamente não conhecia. Parece muito interessante.
Boas leituras