terça-feira, 5 de julho de 2016

LEITURAS DE FÉRIAS, 7: MOMO


Publicado originalmente em 1973, quando nascia a última geração autorizada a brincar na rua, Momo é um romance portador dessa qualidade premonitória que a boa literatura tem o dom (ou a maldição) de revelar. Escreveu-o Michael Ende (1929-1995), para no ano seguinte ganhar o prestigiado Prémio de Literatura Juvenil Alemã pela segunda vez. Em Portugal, conheceu a sua primeira edição em 1984, ano orwelliano. Não podia ter calhado melhor: Momo é uma distopia do tempo em que as distopias juvenis não estavam na moda: cidades onde as crianças não podem brincar, adultos consumidos pelo tédio e pelo trabalho repetitivo, o mundo dividido em párias e seres produtivos, celebridades espremidas até ao tutano, bairros tristes e montanhas de lixo nos arrabaldes. Um livro bem pensado e bem escrito, sem peripécias em exagero a intoxicar o leitor incauto e com cuidadas passagens descritivas que deixam muito lugar à imaginação. Momo é o nome da heroína da história, uma menina capaz de entender o que é o tempo. Só ela poderá interromper o plano inexorável dos «senhores cinzentos», para quem tempo é dinheiro. Ao que parece, alguns foram esquecidos e ficaram para semente. Momo é uma reedição da Presença, com tradução de Maria Margarida Morgado.

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