quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ENCONTROS COM A MINHA ALMA GÉMEA, 2


Hoje, ao final da tarde, na Linha Vermelha do Metropolitano de Lisboa. Um senhor bem vestido, mas com um aspecto muito cansado e, talvez por isso, parecendo mais velho do que na realidade seria, sentou-se no lugar vago ao meu lado:

- Saldanha?! Então, mas eu acabei de entrar no Saldanha!...
- Não se preocupe, é a voz que não está a bater certo com as estações, também já tinha reparado...
- Ah, pronto! Uma pessoa já lhe falha a memória, e eles ainda tornam isto pior. Olhe, minha senhora, não sei para que lemos tantos livros... Eu li tanta coisa e não me serve para nada.
- Oh... Então porque é que diz isso? Os livros...
- Porque, se calhar, o único objectivo disto tudo é segurar a bola...
- A bola?... Ah, quer dizer, a Terra.
- Pois, a Terra, o globo...
- Então, mas os livros fazem a civilização...
- Se calhar! Mas foram eles que nos puseram cá, para segurarmos a bola.
- Eles, quem?
- Os extraterrestres, os alienígenas...
- Ah... talvez...
- Isto é tudo muito cansativo. Uma pessoa nasce e morre, e depois acabou-se. Uns atrás dos outros. Para que servem os livros?
- Servem para as pessoas que ficam depois de nós...
- Essas depois também morrem. Se começamos a pensar nisso, ficamos doentes. Isto não faz sentido nenhum. Somos todos robots nas mãos deles, estamos aqui só para segurar a bola!
- Não diga isso.... Então e a arte? Para que serve a arte?
- Olhe, serve para provar que eles já cá estiveram. Deixaram desenhos nas grutas para provar que já cá estiveram. E um dia talvez voltem para salvar a bola, porque nós não conseguimos tomar conta dela.
- ..... (silêncio)
- Há cada vez mais máquinas e robots para nos substituir. Qualquer dia inventam robots para limpar a casa, já pensou?
- Eu acho que já inventaram robots para limpar a casa...
- Ai sim? Olhe, então talvez eu seja um robot e esteja a aqui a ser controlado por alguém. Quem me diz a mim que eu não sou um robot? Adeus, minha senhora, muito gosto em falar consigo. Feliz Natal!
- Para o senhor também, Feliz Natal!


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