segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

«NÃO PODE SER SÓ ISTO»


É uma pena que a entrevista ao padre e poeta José Tolentino Mendonça, conduzida pela jornalista Anabela Mota Ribeiro e publicada no Jornal de Negócios de 24 de Dezembro, não possa ser lida na íntegra urbi et orbi. Foi uma óptima companhia na viagem de comboio Lisboa-Porto e continuará depois disso. Partilho aqui alguns sublinhados:


«As nossas sociedades são extenuantes nos ritmos que pedem. É sempre para lá das margens. Perdemos o sentido dos limites. Não é só em termos do espaço, com a disseminação dos "open spaces". Também com os telemóveis, e as comunicações, estamos sempre ligados.»

«Deixámos de ter tempo para nós próprios, para a gratuitidade dos gestos. Deixámos de ter tempo para uma conversa. Em vez de ouvirmos palavras, ou frases, apenas ouvimos sílabas, rumores, que já não são nada. Isso implica uma diminuição da nossa qualidade de vida.»

«Cada vez mais um de nós tem de levantar a mão, e tem de esbracejar. Temos de ouvir os poetas quando dizem:"Não pode ser só isto". Um grande manifesto político seria dizer: "Não pode ser só isto."»

«A questão é se estamos a pensar na sobrevivência ou se estamos entretidos com a sobrevivência. Sobrevivemos para alguma coisa. A sobrevivência não é a finalidade da própria vida, é um meio para a construção de outra coisa. Vivemos para quê? É esse tipo de abertura que é necessário rasgar.»

«Também digo que o corpo é a língua materna de Deus.»

«Os distúrbios permitem-nos tomar consciência do sítio onde estamos. As crises são máquinas de consciência, de intensificar a nossa atenção aos próprios processos, àquilo que estamos a viver. Senão, caímos num automatismo muito grande.»

«Muitas vezes, o que a nossa casa precisa é que abramos a janela, em vez de estarmos exasperadamente a introduzir um novo purificador do ar. Precisamos de uma boa corrente de ar. E isso é uma metáfora para a própria vida.»

2 comentários:

Uva Passa disse...

Uma pessoa que lê o trabalho da Anabela Mota Ribeiro, é uma das minhas pessoas.

Carla Maia de Almeida disse...

Somos pessoas umas das outras. :-)