quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

AINDA OS PRÉMIOS SPA



Quem se expõe, arrisca-se a ser mal interpretado – ou a explicar-se mal, ou as duas coisas juntas, a mais das vezes. Para o que conta, os resultados são idênticos. Não estou aqui para ofender nem magoar ninguém e, sem querer entrar no discurso bacoco do «quem me conhece sabe que…», limito-me a reconhecer que não escolhi bem as palavras finais do post anterior. É claro que «há muitos livros bons à espera de reconhecimento», mas parece-me evidente que o júri dos prémios SPA/RTP tem elegido obras de qualidade insuspeita. Por outro lado, foi visível o esforço para afinar os critérios, passando os ilustradores também a ser nomeados, desde 2012. Mantenho que Os Ciganos, um livro com três autores (Sophia de Mello Breyner Andresen, Pedro Sousa Tavares e Danuta Wojciechowska), seja um caso sui generis de concepção de uma obra, revertendo essa originalidade em seu favor, na minha opinião. Considerar que tal possa ser obstáculo à nomeação para um prémio foi, muito provavelmente, um especiosismo da minha parte, mas sem qualquer motivação insidiosa.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O NAUFRÁGIO DA MINHA VIDA



Em finais de Janeiro de 1975, quando eu tinha seis anos, assisti ao incêndio do Jacob Maersk, um petroleiro dinamarquês que naufragou a dezenas de metros do porto de Leixões. Morreram entre 15 a 20 marinheiros e as praias cobriram-se de crude. Na altura não sabia o que era um «desastre ecológico». Mas aquelas gigantescas labaredas assombraram o meu imaginário para sempre. E durante anos e anos relembrava este acontecimento sempre que via os restos da proa encalhada junto ao Castelo do Queijo, na Foz. Já não está lá há muito tempo. Restam estas imagens dramáticas no You Tube, tão bem escolhidas como a música de fundo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

ACHIMPA VENCE PRÉMIO SPA



Achimpa, com texto e ilustrações de Catarina Sobral, ganhou (e muito bem) o Prémio SPA da categoria de Melhor Livro Infantil. Pequeno Livro das Coisas, de João Pedro Mésseder e Rachel Caiano, também seria um digno vencedor. Das três nomeações, só não entendo muito bem o caso de Os Ciganos, livro começado por Sophia de Mello Breyner Andresen e continuado - em 2012 - pelo seu neto, Pedro Sousa Tavares. Não está em causa o valor da obra, mas sim a delicadeza de um caso sui generis no que toca à atribuição da autoria. Sophia ou Pedro? Pedro ou Sophia? Não vale a pena complicar. Há muitos livros bons à espera de reconhecimento.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

BLIMUNDA Nº 9


Na edição nº 9 da Blimunda, revista cultural on-line da Fundação José Saramago, pode ler-se uma entrevista a André Letria e uma retrospectiva do que foi o «ABC da Edição Digital» na Fundação Calouste Gulbenkian, o mês passado. Entre muitas outras coisas. Podem fazer download no site da fundação ou ler no Scribd, aqui

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

LIVRARIA CABEÇUDOS ITINERANTE



Uma excelente notícia: a livraria Cabeçudos vai tornar-se (também) itinerante, com passagem garantida por todos os municípios de Portugal Continental. A apresentação oficial tem lugar amanhã, na Escola Secundária de Pedro Nunes, em Lisboa, pelas 10h30. Mais pormenores:

«A livraria móvel consiste num veículo transformado, adaptado ao transporte, exposição e venda de livros e é o prolongamento da Livraria Cabeçudos no que respeita à sua missão: contribuir significativamente para a promoção da literatura infantojuvenil, encorajando as crianças a iniciarem-se o mais cedo possível nessa viagem maravilhosa que é a leitura, e, motivando os jovens a preservar hábitos de leitura para que amadureçam leitores apaixonados. Promover a partilha de experiências e conhecimento entre crianças, jovens e adultos.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O AMOR É...


Isto.

(Amordiscadelas, de Moni Pérez, Kalandraka, uma sugestão para o Dia dos Namorados.)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

AVES DEMASIADO HUMANAS


No final do ano apareceu um álbum de dois autores mexicanos que pode ser entendido como uma alegoria sobre a evolução da Humanidade, passe o tom pomposo da síntese. Nas figuras humanizadas destas aves vemos a representação de um mundo que bem conhecemos: a revolução científica dos séculos XVI a XVIII; a arquitectura que nos protege e encerra; as arriscadas máquinas de voar que sempre nos parecem frágeis na imensidão do espaço… Quando as aves sucumbiram ao excesso e ao artifício, veio também a produção em massa, a sobrepopulação, a obsessão do corpo perfeito, a guerra. «Quiseram controlar tudo: outros territórios, a vida, e inclusivamente o destino dos demais.» A imagem do tigre equilibrado numa bola de circo é a triste excepção neste mundo governado por aves de olhar duro e opaco, esquecidas de saber voar. Felizmente, «em algum lugar, ainda há quem tente estender as asas», dizem os autores, David Alvarez (n. 1984) e María Julia Garrido (n. 1986). São dele os elaborados desenhos a grafite, mas trata-se de um trabalho conjunto de texto e ilustração que lhes trouxe, merecidamente, o V Prémio Compostela para Álbuns Ilustrados.


Aves
María Julia Díaz Garrido
Ilustrações de David Daniel Álvarez Hernández
Tradução de Ana M. Noronha
Kalandraka

(Texto publicado na LER nº 121, secção «Leituras Miúdas».)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

ESCREVER CONTRA A MENTIRA


Olho para esta ilustração e vejo um Hemingway, mas pronto. O grande Enki Bilal desenhou a capa para o tema de fundo da revista Magazine Littéraire de Fevereiro, um generoso dossier que percorre a vida e a obra de Thomas Lanier Williams, mais tarde Tennessee Williams. Completam-se este mês trinta anos sobre a morte de um homem excessivo e paradoxal; o mesmo que afirmou, numa entrevista a si próprio, encarar a escrita «como uma espécie de psicoterapia». Nada de original, mas poucos se atreveram a ir tão longe no afrontamento dos anjos e demónios interiores, em especial aqueles que andam pelo território perigoso dos distúrbios mentais (recorde-se que a irmã mais velha sofreu uma lobotomia aos 44 anos), para depois desmascarar as mentiras consentidas – familiares, sociais, políticas… – que minam a vontade, o afecto e a força do indivíduo. Num dos muitos artigos, a Magazine Littéraire lembra que Arthur Miller, Eugene O’Neill, Edward Albee e Tennessee Williams partilharam este desejo de corromper a «fábrica de ilusões» que alimenta a concórdia da moralidade. «As suas personagens esplêndidas, Blanche, o reverendo Shannon, Big Daddy, gritam a sua verdade à loucura, a Deus e à morte.»

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

CHARLOTTE SOMETIMES


Recentemente descobri que uma das melhores canções dos The Cure é inspirada numa obra de referência da literatura juvenil inglesa: Charlotte Sometimes. Foi escrita por Penelope Farmer e publicada no Reino Unido pela Chatto & Windus, em 1969. Uma pesquisa superficial diz-me tratar-se da história de uma rapariga (Charlotte, of course), recém-chegada a um colégio interno, que se descobre «encarnada» noutra aluna, Clare, cuja vida remonta a quarenta anos antes. Não percebo bem se é uma história de fantasmas se de exploração do tema das viagens no tempo... Let’s look at the video? Estávamos em 1993 e cantávamos «sometimes I'm dreaming/ Charlotte sometimes...»

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

LER SEM MODERAÇÃO


Na LER de Fevereiro, uma bela capa com ilustração e lettering de João Fazenda conduz às catorze páginas dedicadas a Ruy Belo – poeta do nosso contentamento descontente, da fulgurante melancolia, um «homem de palavra» e «um extraordinário dissidente lírico», como escreve José Tolentino Mendonça. A propósito das Cartas de Casanova, Carlos Vaz Marques entrevistou António Mega Ferreira, primeiro director da revista. Surgiu no Inverno de 1988 (desde então, nunca falhei um número) e já atingiu uma considerável longevidade, «come hell or high waters». Nesta edição, despedem-se não só as grandes entrevistas de Carlos Vaz Marques (pena, muita pena) como a direcção de João Pombeiro: um breve intervalo de tempo em que se apostou forte na capacidade de reinvenção da revista, na visibilidade pública extra-literária e na comunicação com os leitores e colaboradores. Pela parte que me toca mais directamente, soube bem ver a Feira do Livro Infantil de Bolonha servir de pretexto à capa de Bernardo Carvalho, em Março de 2012, ano em que Portugal foi país convidado. Está tudo lembrado no editorial, mas a continuidade dos pergaminhos do DN Jovem nas páginas do «15/25» e o Festival LER no Cinema São Jorge chegavam para demonstrar o vitalismo e a paixão destes últimos 17 meses. Julgo que o profissionalismo de um jornalista como o João Pombeiro é independente de tudo, excepto das suas qualidades pessoais, conhecidas de todos os que com ele trabalham. E isso faz toda a diferença. Obrigada.