terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A SEMANA DE SOPHIA


“Nos últimos dias de Novembro de 2010, o espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen chegou à Biblioteca Nacional de Portugal, doado pela família. Veio de uma sala no Centro Nacional de Cultura onde uma equipa constituída por Manuela Vasconcelos e Maria Andresen de Sousa Tavares leu, identificou e classificou cada documento. Mas, mais remotamente, o espólio de Sophia veio da sua casa na Travessa das Mónicas, em Lisboa. Veio dos grandes armários, com portas de vidro, onde ela fechava à chave tudo o que não queria destruir; armários que no fim da vida estavam cheios como um ovo.

O espólio de Sophia traz, naturalmente, as marcas da vida, com todos os seus acidentes biográficos. São cadernos e folhas soltas com rascunhos e diferentes versões de vários tipos de textos, esboços de projectos, traduções; são cartas, agendas cheias de notas sobre afazeres do dia-a-dia (números de telefone, receitas de cozinha, contas domésticas), diários de viagem, desenhos, recortes de jornais com depoimentos e entrevistas, fotografias; são impressos que documentam gestos de solidariedade e envolvimento cívico e político. Mas, para além de tudo isto, o espólio traz a marca vincada daquela procura obstinada da palavra “exacta”, como ela própria dizia, que no poema encontrou a sua forma mais resistente e secreta, mais clara e eficaz. Traz o rasto e a história da sua tentativa. Encontramo-la na quantidade de manuscritos sem título, não datados, em muitos casos com a aparência de fragmentos de outros textos maiores; nas várias versões de poemas que viríamos a conhecer publicados; nos cortes, hesitações, emendas; nas versões autógrafas dos cinco textos chamados «Arte Poética», numerados de I a V; nas inúmeras versões de alguns poemas editados, no rico acervo de poesia inédita. E encontramo-la, magnificamente, na evolução da própria letra escrita, no seu desenho, nos sinais de pressa ou de vagar, de impaciência, na mancha da tinta; no modo como o tempo foi transformando a caligrafia, como foi alterando os nn, os aa, a ponto de, a partir dessas marcas, podermos datar os papéis.

Há também o fruto de descobertas surpreendentes. Por exemplo, no fundo de um pequeno móvel, meio abandonado estavam, escondidos e alinhados, vários cadernos, os mais antigos cadernos de poemas. Dentro da ideia de que os desperdícios contam histórias, pode-se dizer que esta é uma das partes mais interessantes do espólio. Estes cadernos contêm escritos datados entre 1932 e 1941. Alguns já não têm capa, os poemas são escritos a lápis ou a tinta permanente; há passagens quase ilegíveis. Contêm os primeiros esboços de poemas, tentativas adolescentes que remontam aos 12, 13 anos. E contêm, em manuscrito, muitos dos poemas que viriam a ser publicados ao longo da vida.

(…)

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919 e morreu em Lisboa a 2 de Julho de 2004.

Assinalando a sessão da entrega do Espólio à BNP, no dia 26 de Janeiro de 2011, será inaugurada a Exposição “Sophia de Mello Breyner Andresen - Uma Vida de Poeta”, comissariada por Paula Morão e Teresa Amado.”

(Informação enviada pela Biblioteca Nacional. Para aceder ao programa completo do colóquio internacional dos dias 27 e 28 de Janeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian, clique aqui.)

FEIRA FRANCA NO PORTO


As feiras francas, uma tradição que no Porto se iniciou em 1451, acontecem desde Fevereiro de 2010, todos os últimos sábados de cada mês, no piso nobre do Palácio das Artes – Fábrica de Talentos (Largo de São Domingos, Porto). Trata-se, em linguagem técnica, de uma “plataforma de exposição e venda mensal para as áreas criativas”, onde artistas e criativos – também na área da ilustração, literatura e edição, que nos interessa especialmente – podem divulgar o seu trabalho e conhecer o que outros fazem. A próxima feira franca acontece no sábado, dia 29 de Janeiro, entre as 10h00 e as 22h00, sob o tema “Desenhar Uma Linha”. Na imagem, ilustração do projecto de Inês de Oliveira, uma das participantes desta 10ª edição (que, não será de mais acrescentar, tem entrada livre).

NOVELA GRÁFICA EM CRESCIMENTO

Embora a tendência ainda seja pouco visível em Portugal, a novela gráfica está em crescimento, especialmente para o segmento do leitor adolescente: “They can be called visual books, long-format comics, comic-strip novels and picture novellas, but are most commonly known as graphic novels.” Notícia retirada do neozelandês Beattie’s Book Blog.

ERIC CARLE RECUPERA ARTISTA PROSCRITO


Para quem ainda duvida do poder de evocação estética e artística na ilustração dos (bons) livros para crianças, aqui fica a notícia. Eric Carle, de quem não só é obrigatório conhecer The Very Hungry Caterpillar (A Lagartinha Muito Comilona, na edição portuguesa da Kalandraka), entre mais de 70 títulos, prepara-se para publicar um picture book inspirado na obra de um pintor proscrito do expressionismo alemão: Franz Marc (1880-1916), um dos fundadores do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul). Sai em Outubro deste ano, numa primeira edição de 300 mil exemplares. Esperemos que também chegue cá.

NOVA COLECÇÃO DA SINAIS DE FOGO


A Sinais de Fogo, que firmou o seu nome na edição portuguesa de livros de desenvolvimento pessoal – alguns deles, de referência – vai inaugurar uma linha editorial destinada aos mais novos, a Sinais de Fogo Juvenil. Escrita por Stephan Valentin, um psicólogo alemão especialista na problemática da infância e da adolescência, e ilustrada por Laurent Houssin, desenhador premiado com o Avenir do Festival de BD de Lys-les Lannoy, a colecção chama-se Os Amigos do Luca e chegou este mês às livrarias, com os dois primeiros títulos: Tim e Adora os Seus Amigos e Zeca Está Apaixonado.

CONHECER ALICE GOMES


"Escritora, pedagoga, conferencista, dramaturga, Alice Gomes foi uma mulher de acção, que deixou publicados vários contos, poesias, traduções, ensaios e outros tantos por publicar. De toda a sua experiência de convívio e estudo da criança resulta uma obra diversificada onde a formação de pedagoga se associa à imaginação e ao humor. É com subtileza que procura incutir princípios que dignificam o futuro das crianças e é também com alegria que os procura atrair para a leitura, de modo a que não percam o gosto e a necessidade de ler.

Em estilo dialogante e comunicativo conta histórias do real retocado pelo maravilhoso ou pelo sonho em o Vidrinho de Cheiro e Contos Risonhos, para logo em os Ratos e o Trovador enveredar pela teatralização da lenda do flautista de Hamlim. A Lenda das Amendoeiras e Nau Catrineta são duas outras peças teatrais de Alice Gomes. Poesia Para a infância (1955) é uma antologia de poesia portuguesa e brasileira. Outras das suas obras dedicadas à poesia são Poesia de infância (1966) e Bichinho poeta (1970), livro de poemas que ocupa um lugar destacado na obra desta escritora que foi elemento proeminente de várias actividades ligadas à criança. As reflexões que deixou expressas em Aprender sorrindo e Literatura para a Infância, 1979, demonstram a sua contínua actividade de escritora e divulgadora de literatura infantil.

Esta mostra pretende homenagear Alice Gomes, a escritora nascida na Granjinha, Tabuaço, em 1910 e falecida em Lisboa, em 1983, e que não se considerava escritora, conforme escreve na introdução de Pensamento da Poesia e Prosa da Vida (1989) “(…) gostaria de avisar que não sou escritora, mas apenas representa a fuga do meu espírito em dias de solidão…”.

Acompanhou o marido, o escritor Adolfo Casais Monteiro, no seu longo exílio no Brasil. A fotografia utilizada é da autoria do artista surrealista Fernando Lemos, datando do início da década de 50 do século XX, tendo sido publicada na obra Retratos de Quem? Anos 50 (São Paulo, Instituto Camões, 2000)."

(Informação enviada pela Biblioteca Nacional, onde está patente, até 7 de Março, a exposição “Alice Gomes: Poesia e Prosa de uma Vida”)

domingo, 23 de janeiro de 2011

SAUDADES DO ESCUDO


Em cada português há um insurrecto que deseja secretamente ser expulso do clube do euro, mesmo sem acreditar nas vantagens dessa renúncia. Entrámos para o euro como quem ingressa num ginásio caro, ufanos e cheios de expectativas, para descobrir que não conseguimos pagar a mensalidade e somos obrigados a comprar fatos de treino no chinês. No fundo, os portugueses têm saudades do escudo porque têm saudades da estabilidade e do crescimento que lhes prometeram há dez anos, pouco importando se trazia a cara de Bartolomeu Dias ou de um pórtico românico que ninguém sabe onde fica. As notas de euro são chatas, mas pior do que isso é não circularem com abastança pela maioria das carteiras. À permanente flutuação dos mercados e ao défice financeiro juntou-se o défice de identidade nacional, comum aos 17 países afectos à moeda única. É uma perda sentimental que nada consegue colmatar. Nunca mais nos passou pelas mãos o olhar feroz de Vasco da Gama nas notas de 5.000$00, a farta bigodaça de Camilo Castelo Branco e a pose melancólica de Bocage estampadas nas notas de 100$00. Ou o garbo de D. Pedro V, com aquele queixo que se dobrava ao meio e fazia de um conto de réis uma anedota indecente. Com o escudo, tratávamos o dinheiro por tu: dizíamos «são vinte paus», da mesma maneira que os espanhóis falavam em «pelas», referindo-se à peseta, e os franceses chamavam «balles» aos francos. Com o escudo, tínhamos mais presente a noção do valor do dinheiro. Nos anos 1980, um LP custava cerca de 400 paus, uma moeda de dois euros. O que é isso, agora? Trocos. E ninguém dá valor a trocos.

(Crónica publicada na edição de 23 de Janeiro da Notícias Magazine, revista de domingo do Diário de Notícias e Jornal de Notícias, na secção "Nostalgia".)

sábado, 22 de janeiro de 2011

ACREDITAR QUANDO TUDO PARECE MORRER


Creio

Creio nos anjos que andam pelo mundo
Creio na deusa com olhos de diamante
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta no muro
Creio na carne que enfeitiça o além
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,

Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.


(Poema de Natália Correia. Fotografia de Guto Ferreira.)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

NEIL GAIMAN VAI ENTRAR NOS SIMPSONS


Quem está atento aos Simpsons já detectou a presença de muitos escritores que surgem representando-se a si próprios, caricaturizando os tiques e peculiaridades que os distinguem (Thomas Pynchon, o anacoreta literário por excelência, surgiu com um saco de papel enfiado na cabeça). A uma lista extensa que inclui John Updike, J. D. Salinger, Gore Vidal, Jonathan Franzer, Tom Wolfe, Stephen King, J. K. Rowling e Stephen Jay Gould, junta-se agora o inglês Neil Gaiman, um dos escritores mais versáteis da sua geração, autor de argumentos de banda desenhada, cinema, romances fantásticos, picture books, novelas gráficas e muito mais. Não sabemos como vai ser o cameo de Gaiman - a não ser que a fala terá sotaque americano -, mas teria graça vê-lo a aparecer e a desaparecer nas portas (verdadeiras ou virtuais) que constantemente aparecem nos seus livros.

HOMENAGEM A MATILDE ROSA ARAÚJO NO PORTO

Na próxima terça-feira, 25 de Janeiro, a Escola Superior de Educação do Porto convida todos os interessados (e esperemos que sejam mais do que houve numa iniciativa similar em Lisboa…) a assistir à homenagem a Matilde Rosa Araújo. O programa abre às 16h00, com um colóquio em que participam José António Gomes, Ana Margarida Ramos, Sara Reis da Silva, Maria Elisa Sousa, Jorge Alexandre Costa e Ana Cristina Macedo. Segue-se, às 18h00, a audição integral de As Cançõezinhas da Tila, de Fernando Lopes-Graça e Matilde Rosa Araújo, alternada com leituras e comentário de textos.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

NOVIDADES DA BOOKSMILE



Janeiro traz a quarta aventura da colecção Uma História Mesmo Bestial, já recenseada na secção “Leituras Miúdas” da LER. Desta vez, Ulf, o pequeno lobisomem, vai ter de encontrar o mítico vampiro da selva, seguindo os princípios da causa da SRPCB (Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade para com as Bestas). Prossegue também a colecção João Pastel, com o quinto volume – e o próximo anunciado já para Março. A Maldição do Pirata é uma das três histórias independentes que têm como protagonista um miúdo com uma vida perfeitamente normal, mas insuflada por uma imaginação galopante. Também já falámos dela aqui.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

IMAGENS PARA PENSAR HISTÓRIAS


O convite para a inauguração desta exposição de ilustração, “Imagens para pensar histórias”, veio da ilustradora Evelina Oliveira (espreitem o blogue aqui), mas pouco mais posso dizer sobre o assunto. É o pesadelo do costume. Qualquer informação que se tente arrancar às câmaras municipais é sempre a trancos ou barrancos, seja porque os telefones não atendem ou porque fulano não está ou porque sicrano é que sabe (mas também não está), ou porque o doutor ou a doutora está em reunião (evidentemente), ou porque se tem de ligar para o número não sei quantos e falar com não sei quem… Apre, que não há paciência! Ficam os horários e o local, a única coisa que consegui saber: dias úteis, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30; sábados, das 15h00 às 19h00. Na Galeria Municipal do Montijo e Biblioteca Municipal, Rua Almirante Cândido dos Reis, 12. A exposição inaugura no sábado e prolonga-se até 26 de Fevereiro.

NOVO LIVRO DE ANA LUÍSA AMARAL


Depois de A História da Aranha Leopoldina, um livro com CD que já foi adaptado ao teatro, Ana Luísa Amaral publica novamente pela Civilização. Gaspar, o Dedo Diferente, tem ilustrações de Abigail Ascenso e já deve estar nas livrarias. Mais informação extraída do press-release enviado pela editora:

“Ana Luísa Amaral é uma autora conhecida sobretudo pela sua obra poética para adultos. Nasceu em Lisboa, mas vive desde os nove anos no Porto. Tem um doutoramento sobre a poesia de Emily Dickinson e é Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Está representada em inúmeras antologias portuguesas e estrangeiras e tem feito leituras dos seus poemas em vários países. Em 2007, venceu o Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes d’Escritas, com a obra A Génese do Amor. No mesmo ano, foi galardoada em Itália com o Prémio de Poesia Giuseppe Acerbi. O seu livro Entre Dois Rios e Outras Noites obteve, em 2008, o Grande Prémio de Poesia da APE.”

MESSAGE IN A BOTTLE



Apesar de já ter sido amplamente divulgado na blogosfera, O Jardim Assombrado não podia deixar de ter o booktrailer de um dos livros mais bonitos de 2010, O Coração e a Garrafa, de Oliver Jeffers. O video é de Catarina Sobral, ilustradora que vai inaugurar a presença de autores portugueses na colecção Orfeu Mini, com o livro Greve, já citado aqui.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A ÚLTIMA ESTAÇÃO


Vinte anos antes da imprensa económica ter cunhado o termo PIGS, acrónimo dos países manhosos da União Europeia – Portugal, Itália, Grécia e Espanha –, os portadores do Inter-Rail já sabiam que o comboio andava a duas velocidades. A escolha representava um golpe nessa fome de justiça poética que é suposto ter aos 18 ou 20 anos. A escolha era implacável. Viajar para os lados dos «pigs» da época, rumo ao Leste ou Sul da Europa, implicava criar intimidade com assentos de napa pegajosos, abrir latas de pasta de carne de origem incerta e ser enganado por taxistas de bigode que nunca falavam outra língua a não ser a sua, um arrazoado de aldrabices pegadas. Mas havia o clima, para ajudar. Evitar os «pigs» e viajar para o Norte da Europa, pelo contrário, prometia paisagens imaculadas, mapas gratuitos nas estações, casas de banho onde era possível a higiene completa (um pé no lavatório, depois outro), rostos glabros de aparência saudável e comida crua a preços exorbitantes. Mas havia o clima.
Tudo isso acabou há muito. De uma forma geral, viajar é, agora, uma banalidade perigosa. A CP eliminou o sistema de divisão por castas geográficas e aumentou o limite de idade. Teoricamente, pode-se fazer o Inter-Rail até estar a cair da tripeça. Por outro lado, a mesma CP garante que o Inter-Rail é «uma peça incontornável no currículo de um jovem», como se tal o livrasse de ficar três horas à espera de uma consulta no centro de saúde mais próximo. Decidam-se, por favor. Há um tempo para tudo, incluindo o tempo do Inter-Rail. Quem fez, fez muito bem. Mas na altura certa.


(Crónica publicada na edição de 16 de Janeiro da Notícias Magazine, revista de domingo do Diário de Notícias e Jornal de Notícias, na secção "Nostalgia".)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CITY-BREAKS: PORTO


O Jardim Assombrado vai celebrar e matar saudades à Cidade Surpreendente. Até segunda-feira, caros leitores.

MÁS COMPANHIAS


Muito em breve, também vou fazer parte deste clube.

PRÉMIOS NEWBERY E CALDECOTT 2011


Moon Over Manifest, de Clare Vanderpool, ganhou o prémio Newbery para melhor livro para crianças, enquanto o picture book vencedor do prémio Caldecott foi para A Sick day For Amos McGee, ilustrado por Erin E. Stead e escrito por Philip C. Stead. Notícia e links para os livros vencedores no Beattie's Book Blog.

E OS ANJOS CONTINUAM A CAIR


Porto Editora/Sextante apresentaram ontem aos jornalistas as novidades editoriais do primeiro trimestre de 2011. Eram tantos títulos novos que não houve tempo para falar do infanto-juvenil, área para a qual estão previstos cerca de cem lançamentos. Enquanto não chegam pormenores, ficámos a saber que os fãs de Robert Muchamore – e são muitos, a avaliar pelos quatro milhões de livros vendidos no mundo inteiro – podem contar para breve com mais uma missão secreta da Cherub (Cães Danados); enquanto os fãs de “anjos caídos”, que também os há, vão seguir em Crescendo os protagonistas de Hush, Hush, o best-seller da norte-americana Becca Fitzpatrick, cuja terceira parte será publicada em 2011, com o título Tempest.

LUÍSA DUCLA SOARES RECRIA OS TRÊS PORQUINHOS


Alvo de versões politicamente correctas, ou precisamente o seu contrário, Os Três Porquinhos talvez seja, depois de O Capuchinho Vermelho, a história tradicional com maior número de versões contemporâneas. E conta-se mais uma em português, por Luísa Ducla Soares e Maria João Lopes (ilustrações). Conhecendo o humor por vezes implacável da escritora, é de esperar o melhor. Sai ainda este mês, com a chancela da Civilização.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

SOPHIA: “UMA CRIANÇA NÃO É UM PATETA”


«Uma criança é uma criança, não é um pateta», disse Sophia de Mello Breyner Andresen. Num depoimento recolhido por Luísa Ducla Soares e integrado na obra A Antologia Diferente: De Que São Feitos Os Sonhos (Areal Editores, 1985), Sophia fala com desassombro das razões que a levaram a escrever para crianças: uma crise de sarampo dos filhos, a necessidade de os entreter com histórias e a constatação «da pieguice da linguagem» nos livros da época, arregimentados aos valores paternalistas das décadas de 1940 e 50. «Atirei os livros fora e resolvi inventar. Procurei a memória daquilo que me tinha fascinado na minha própria infância. (…) Nas minhas histórias para crianças quase tudo é escrito a partir dos lugares da minha infância.»

A casa e a praia da Granja, em Espinho, são revisitadas em A Menina do Mar, no início de um percurso que Maria Luísa Sarmento de Matos denominou Os Itinerários do Maravilhoso (Porto Editora, 1993). Toda a obra lírica e narrativa de Sophia é indissociável dessa dimensão literária e estética que emerge da consciência do maravilhoso, construindo um discurso mágico e profundamente simbólico. Não a magia banalizada dos actuais produtos literários sucedâneos, mas uma magia imanente à ordem da natureza e à ética do ser. A Fada Oriana, publicada no mesmo ano que A Menina do Mar (1958), reflecte a dicotomia do bem e do mal substituindo o maniqueísmo vigente pela demanda de um humanismo pleno, desta vez no espaço simbólico do bosque, subjacente aos contos de fadas – e à vivência de Sophia na Quinta do Campo Alegre, no Porto (actual Jardim Botânico).

Seguem-se A Noite de Natal (1959), O Cavaleiro da Dinamarca (1964), O Rapaz de Bronze (1966), A Floresta (1968) e A Árvore (1985). A este núcleo mais conhecido, deve acrescentar-se a peça de teatro O Bojador (1961) e duas antologias de poesia para a infância e juventude, uma das quais organizada em parceria com o poeta Alberto de Lacerda.

Em 1992, Sophia de Mello Breyner Andresen recebeu o Grande Prémio Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra infanto-juvenil. No colóquio internacional que decorre a 28 e 29 de Janeiro não há propostas assumidamente centradas nesta produção, mas pelo menos as comunicações de Fátima Freitas Morna («Momentos de silêncio no fundo do jardim: a efabulação como poética na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen») e de Paula Morão («Nunca nada é inventado – Sophia e a casa do Campo Alegre») prometem contribuir para iluminar os lugares onde respira uma das vozes intemporais da nossa literatura para crianças.

(Texto publicado na secção “Leituras Miúdas”, LER nº 98. Fotografia de Eduardo Gageiro.)

Para se inscrever ou aceder à página de apresentação do colóquio internacional sobre Sophia de Mello Breyner Andresen, que decorre em Lisboa de 28 e 29 de Janeiro, clique aqui.

domingo, 9 de janeiro de 2011

SO YOU WANT TO WRITE A NOVEL



Isto é hilariante. Isto é deprimente. Isto é verdade. Via Blogtailors.

NOVIDADES DA ORFEU MINI




A Orfeu Negro vai publicar, na colecção Orfeu Mini, um novo livro de Oliver Jeffers, autor de O Incrível Rapaz que Comia Livros e O Coração e a Garrafa. Perdido e Achado conta a história de um miúdo que recebe a visita indesejada de um pinguim, e cujos esforços para o devolver à procedência trazem resultados inesperados. A chancela da Antígona estreia também a publicação de um autor português – neste caso, uma ilustradora, Catarina Sobral –, autora do livro Greve, sobre quem se pode ficar a saber mais aqui. Um novo livro de actividades para crianças, Caderno de Pintura Para Aprender as Cores (na imagem, ainda na versão original) e a reedição do fabuloso Animalário Universal do Professor Revillod, de Javier Sáez Castán e Miguel Murugarrén, estão entre as novidades anunciadas para 2011.

DEFINIÇÃO DE GENEROSIDADE

Um anúncio antigo encontrado há pouco no meio da arrumação de papéis. O número foi riscado por razões óbvias.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O FIM DA AMBAR


Não é uma notícia de todo inesperada, o fim da actividade editorial da Ambar (o corrector automático insiste em colocar o acento circunflexo no “A” e eu compreendo-o). Os últimos anos foram de declínio acentuado, particularmente se compararmos com a anterior direcção editorial de João Rodrigues, actualmente na Sextante, responsável pela publicação de muitos e bons escritores e ilustradores de literatura infantil (Lisbeth Zwerger foi um exemplo cimeiro). Na imagem, um livro já muito difícil de encontrar, infelizmente (tem dez anos, é uma antiguidade…), porque continua a ser uma abordagem inteligente e desempoeirada da xenofobia, sem “mensagens” disfarçadas de boas intenções rançosas: O Porco Muda de Casa, da holandesa Claudia Fries. Se o encontrarem, não se arrependerão de comprar.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

CHAMEM O GATO DO SIMON



Está na hora de começar a desfazer a árvore. A gataria, sempre insensível ao espírito natalício, dá uma pequena ajuda. Criaturinhas maravilhosas.

CORRECÇÃO: BAGS OF BOOKS


Eu tenho que me penitenciar. A minha costela jornalística – cada vez mais flutuante, é certo – começa a doer quando cometo este tipo de erros. E nem as 13 dioptrias servem de álibi para dizer que li mal o logótipo da Bags of Books, a nova editora especializada em literatura para crianças. É Bags of Books, com “s”, e não Bag of Books, como escrevi aqui no blogue. Bags, bags, bags. Um nome é uma coisa muito séria. Corrijam-me sempre, caros leitores. Só os inseguros têm medo de ser corrigidos.

BYE BYE, BABE


Morreu o criador de Um Porquinho Chamado Babe, Dick King-Smith. Combateu na Segunda Guerra Mundial e foi agricultor durante vinte anos. Notícia no Guardian.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

ERA UMA VEZ UMA VELHINHA, 2



There Was An Old Lady Who Swallowed A Fly cantada no Muppet Show por Judy Collins, uma discípula de Pete Seeger e Woody Guthrie. Como sempre, a dupla Statler & Waldorf – mais conhecida por “os velhos dos Marretas” – vai tecendo os seus comentários do alto do camarote. Divertidíssimo. Estávamos em 1977.

ERA UMA VEZ UMA VELHINHA, 1


Já aqui citámos Era Uma Vez Uma Velhinha, livro premiado em Bolonha, na categoria de primeira obra, e que incluímos no “best of” de 2010. Inspirado numa velha canção folk, com origem numa nursery rhyme, tem como título original There Was An Old Lady Who Swallowed A Fly. Não se percebe por que é que os tradutores o encurtaram tanto, sem benefício que se veja, mas enfim. Vale a pena passear pelo site do autor, Jeremy Holmes, feito com a mesma minúcia exibida no livro – e depois sacar de lá um dos wallpapers à disposição, como este que se vê acima.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

GOREY EM PORTUGUÊS


Não sei por que artes mágicas, de vez em quando reaparece nas livrarias o único livro de Edward Gorey editado em português (Errata), uma reunião de quatro histórias com tradução de Margarida Vale de Gato. Da última vez que o vi, a dois euros, levei todos os que havia, para guardar e oferecer a gente que se revelou grata por conhecer a figura excêntrica de Yarmouth Port. Ontem, ao deambular pela FNAC do Vasco da Gama, encontrei mais alguns, desta vez a sete euros, também presentes noutras lojas da rede, segundo apurado. Compensa, compensa.

PRÉMIOS DE ILUSTRAÇÃO COREANOS


Só foi instituído em 2008, mas é já um dos prémios internacionais mais importantes, no que à ilustração diz respeito. Falamos das distinções atribuídas pela CJ Cultural Foundation da Coreia do Sul, que este ano recebeu mais de 1500 propostas, entre livros recentemente editados e trabalhos de ilustradores por publicar. Depois de em 2010 ter sido um dos vencedores, com As Duas Estradas, da Planeta Tangerina, este ano Portugal chegou "apenas" aos cem livros finalistas na primeira categoria, com dois títulos: Domingo Vamos à Luz (ilustrações de André Letria, texto de José Jorge Letria) e O Senhor do Seu Nariz e Outras Histórias (ilustrações de João Fazenda, texto de Álvaro Magalhães). Os cinco livros premiados podem ser vistos aqui e a boa notícia é que um deles, Tres Niñas, com ilustrações de Gabriel Pacheco (na imagem acima) e texto Antonio Ventura, vai ser editado este ano pela Bags of Books, uma nova editora já referida aqui.

NOVIDADES DA EDUCAÇÃO NACIONAL


Já está nas livrarias o novo álbum de Rebecca Dautremer, O Livro Que Voa (Educação Nacional), escrito em parceria com Pierre Laury. A visita ao site da ilustradora francesa também vale a pena. Aqui.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

NEM TODAS AS FAMÍLIAS SÃO IGUAIS


É fácil cair em clichés quando se fala do circo nos livros para crianças, mas Pep Bruno e Mariona Cabassa desviaram-se da armadilha explorando uma das grandes virtualidades do picture book: a divergência propositada entre o texto e a imagem. Trata-se da procura de uma unidade pelo efeito de contradição, o que não deve ser confundido com livros mal construídos... Se, por um lado, temos um texto aparentemente anódino, descrevendo um quotidiano banal («Todas as manhãs o meu pai faz o pequeno-almoço… Enquanto a minha mãe lê o jornal. E eu preparo a minha mochila.»); por outro, as ilustrações, agregando a colagem a outras técnicas, entram em ruptura com a palavra, mostrando uma família de artistas de circo envolvida em permanentes malabarismos com a vida real. O truque resulta em perplexidade repleta de humor e fantasia. Com A Família C, Pep Bruno e Mariona Cabassa, ambos de Barcelona, ganharam o terceiro Prémio Internacional de Compostela para Álbuns Ilustrados, atribuído em 2010. E muito bem.

A Família C
Pep Bruno
Ilustrações de Mariona Cabassa
Tradução de Ana M. Noronha
Kalandraka

(Texto publicado na secção “Leituras Miúdas”, LER nº 98)

CONFERÊNCIA DE MARIA TERESA MEIRELES

Não sabemos o local, mas amanhã, pelas 21h30, em Torres Vedras, Maria Teresa Meireles dará uma conferência sobre o seu tema de eleição – o imaginário tradicional – que parte das primeiras colectâneas de contos tradicionais em Portugal. Pergunta-se: “A passagem da oralidade à escrita trouxe consigo a necessidade de dar nome aos contos – de os nomear, colectar, seleccionar, recontar, organizar, imprimir. Que podemos concluir e inferir de todo este processo? O que nos contam os títulos dos contos colectados?”. Quem estiver para os lados de Torres Vedras, aproveite.

TENDÊNCIAS DA LIJ EM 2010


Leitores adultos cada vez mais interessados na ficção juvenil (ou para young adults, melhor dizendo); reforço das narrativas de base mitológica (Percy Jackson) ou distópica (Os Jogos da Fome); continuação do registo diário-humorístico (Diário de um Banana) e a das temáticas paranormais – eis algumas das tendências assinaladas pelos “experts” da Scholastic no campo da literatura infanto-juvenil. Atenção: são as tendências de 2010, não de 2011, como à primeira vista se poderá pensar. Ler em inglês aqui, no site da editora, e em espanhol aqui, com alguns comentários adicionais.

domingo, 2 de janeiro de 2011

LIMPA TUDO


Se alguém entrou em 2011 com sentimentos de culpa remanescentes do ano passado, é só usar isto.