domingo, 29 de novembro de 2009

O CAMALEÃO


Olha, olha bem para ele.
Em primeiro lugar, a pele,
que na perfeição copia
as cores todas do dia.

Depois... parece que avança,
finge que vai e não vai,
e o seu corpo balança,
um tanto em jeito de dança,
um tanto "cai e não cai".

E os olhos? Fazem inveja.
À sua frente, ao lado, atrás,
nada passa que ele não veja.
Não sei de quem disto seja,
mesmo em sonhos, capaz.

Mas nunca a pele cambiante,
o passo lento, farsante
e o olhar movediço
lhe fariam grande serviço
e o livrariam da míngua
se, shluuup, não fosse a língua.

"Olha, olha, um gafanhoto."
Shluuup, lá foi, já está no goto.

(um poema de Raul Malaquias Marques, do livro De Sol a Sonho, Caminho, 2009)

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