quinta-feira, 28 de maio de 2009

TRÊS PASTORINHOS


O Irmão Lúcia faz três anos amanhã e convida toda a gente de bem a aparecer na matinée dançante que começa às 23 horas, no Espaço ILGA, em Lisboa. Imperativos de agenda impedem-nos de comparecer, mas vão daqui os nossos honestos e sentidos parabéns aos pastorinhos mais mimosos da nossa linda terra.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

LIVRO INFANTIL: MITOS E PRECONCEITOS

“No módulo de Edição do curso de Pós-Graduação em Livro Infantil fomos desafiados pela docente Isabel Minhós Martins (uma das mentes criativas da editora Planeta Tangerina) a alinhar num papel alguns dos preconceitos mais comuns que existem à volta do livro infantil. E são muitos. Ideias erradas, superficiais e generalistas que tomam a forma de verdades absolutas, reproduzindo-se nos leitores, na crítica, nas instituições e na própria comunidade produtora, sejam escritores, ilustradores ou editores.” Ler aqui.

QUASE A COMEÇAR


Em http://www.festivalbdbeja.net/, tudo sobre a programação para o primeiro fim-de-semana: lançamentos, apresentações, conversas à volta da bd, workshops, sessões de autógrafos e muito mais...

O PERIGO DAS FÓRMULAS


No Cadeirão Voltaire, Sara Figueiredo Costa faz a crítica do nº51 da série “Uma Aventura…”, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Leitura obrigatória.

terça-feira, 26 de maio de 2009

ESTRANGEIROS


“A conversão nada altera: continuamos prisioneiros do nosso nascimento, da terra natal, da língua materna, presos nas teias primitivas da infância. Um quarto de século vivido no Japão por um japonês nunca será metafisicamente equivalente ao mesmo período vivido por um ocidental no mesmo local. A compreensão de um país não se obtém através de um longo investimento temporal, mas segundo a ordem irracional e instintiva, por vezes breve e fulgurante, da pura subjectividade imersa no aleatório desejado.”

(Teoria da Viagem, Michel Onfray, ed. Quetzal, pág. 63)

UMA LIVRARIA NOS ANTÍPODAS


O Beattie’s Book Blog informa que a livraria situada mais ao norte da Nova Zelândia está à venda por 90 mil dólares neozelandeses, cerca de 40 mil euros. Não tem défice acumulado e está solidamente implantada, diz a conversa de vendedor. Mangonui parece o tipo de sítio onde se pode viver alienado das desgraças do mundo para o resto da vida. Lamentavelmente, não tenho jeito para o negócio. Um eufemismo para a verdade óbvia: sempre fui demasiado cobarde para dar o passo incerto.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

SENHOR DE MATOSINHOS


Quando eu era miúda, o melhor das Festas do Senhor de Matosinhos não eram os carrosséis nem as farturas. Era ir com o meu avô à tômbola da Obra do Padre Grilo, para fazer um furo que desse direito a uma rifa. Os prémios distinguiam-se pela modéstia – receber um chocolate já seria o jackpot –, mas aquela expectativa de cortar a rifa pelo picotado, à espera da palavra reveladora, gerava uma emoção tremenda. A última que tirei, em Junho de 2003, dizia “esferográfica”. E foi com ela que assinei o meu primeiro contrato de edição, dois anos depois. Não acredito em superstições, mas que as há, há.

A fotografia acima mostra as Festas do Senhor de Matosinhos em 1971 e pertence ao Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal. Faz parte de um conjunto que está em exposição na Biblioteca Florbela Espanca, até depois de amanhã.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

TODA A ARTE É DIZER QUALQUER COISA


Este ano, as compras na Feira do Livro de Lisboa pautaram-se pelo método cirúrgico. Em vez dos habituais sacos carregados de saldos e de livros do dia, que não têm espaço na conjuntura actual (isto é, não há tempo, não há cabeça e não há mais estantes), optei por ir directa a alvos previamente definidos. Além da biografia ilustrada de Roald Dahl e de dois livros de contos, boa parte do orçamento foi consumida pelo infra-citado Dicionário do Livro e por outro catatau (“Livro volumoso. Calhamaço”), um estudo de Paulo Heitlinger recomendado pelo meu editor: Tipografia – Origens, Formas e Uso das Letras (Dinalivro). São obras de consulta que se podem ler com um sentido narrativo.

Para casa veio ainda A Arte, Mestra da Vida – Reflexões sobre a escola e o gosto pela leitura (Quimera), da professora Maria do Carmo Vieira, também já referido aqui e aqui. Trata-se de um pequeno ensaio publicado numa edição cuidada, com reproduções de fotografias e pinturas – a começar pela capa de Jean-François Millet, Lição de Tricotar –, em que se apontam alguns dos atentados contra a inclusão da literatura nas escolas, progressivamente arredada em nome de misteriosos “interesses dos alunos”. É assim que clássicos como Gil Vicente, Camões ou Vieira perdem terreno, nos programas e nos manuais, para textos fragmentados e passageiros – “reclamações, bulas, etiquetas de vestuário, notícias, publicidade” – e de utilidade duvidosa num mundo cada vez mais polarizado no domínio do conhecimento. Na minha humilde opinião, é mais fácil que quem tenha gosto e hábito de ler literatura consiga escrever num Livro de Reclamações do que o contrário. Agora, usar um texto de Fernando Pessoa para elaborar um atestado, uma declaração ou um certificado parece-me uma enormidade. Não é assim que se aprende a gostar de ler.

PS – o título deste post remete para a página nove do livro: “(…) toda a arte que não sendo literatura é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa, nas palavras de Álvaro de Campos, o engenheiro naval da heteronímia pessoana”.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

DICIONÁRIO DO LIVRO, 1: ACÉFALO


Acéfalo – Diz-se daquilo a que falta o princípio. Manuscrito ou livro que se encontra solto dos seus precedentes ou a que falta a parte inicial; não se trata exactamente do mesmo que anepígrafo, onde em toda a edição falta a indicação de título e de autor.

(in Dicionário do Livro – Da escrita ao livro electrónico, de Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão, Almedina)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

NA CASA DE ARISTIDES DE SOUSA MENDES


No centro de Portugal, em Cabanas de Viriato, existe uma estátua de outro Cristo-Rei, versão reduzida do panegírico mineral que no último fim-de-semana comemorou 50 anos, provocando uma enchente de acólitos em Lisboa e Almada. A inscrição explica que foi mandada erigir em 1933 “pelo ilustre cabanense Doutor Aristides de Sousa Mendes, diplomata que ao exercer as funções de cônsul-geral em Bordéus – 1940 – salvou milhares de vidas do Holocausto nazi da II Guerra Mundial”. Exactamente quantos? O livro de Rui Afonso (Um Homem Bom, Caminho, 1995) menciona “possivelmente trinta mil”; não sei se o recente estudo de Miriam Assor (Aristides de Sousa Mendes – Um justo contra a corrente, Guerra & Paz, 2009) fornece números mais precisos, porque não o li. Ainda.

Seja como seja, é bom ver como a imagem do “ilustre cabanense” é tratada na sua própria terra. De preferência, a partir do miradouro que parece estar ali para aumentar o efeito irónico. O estado de degradação da Casa do Passal, onde o ex-cônsul e família viveram o seu exílio punitivo, tem sido falado ocasionalmente, mas não há como um choque de realidade para acabar com as dúvidas. Esqueçam quaisquer ideias de reabilitação para museu ou coisa que o valha. Aquilo é uma ruína, ponto. Se dúvidas há, o aviso afixado na porta (“Perigo de derrocada”) encarrega-se de as demolir rapidamente. Pelo que me contaram (e por favor, não me peçam para “concretizar”), a casa de Aristides de Sousa Mendes foi alvo de tantos actos de vandalismo, ao longo do tempo, que em Cabanas de Viriato - e não só - muita gente guarda um documento qualquer relacionado com Aristides de Sousa Mendes e o seu acto solitário de coragem. É o que se pode chamar de "distribuição democrática" de um espólio.

A poucos quilómetros dali, em Santa Comba Dão, continua a avançar o projecto de criação do museu e centro de estudos do Estado Novo, nas casas de Salazar. Cada povo tem os heróis que merece.

Fotografias de Guto Ferreira.

terça-feira, 19 de maio de 2009

CAPITÃO AHAB


No último dia em que fui à Feira do Livro de Lisboa conheci o Alexandre Esgaio (Xana) no stand da Orfeu Negro e voltei para casa com a Eudora Welty, uma fanzine politicamente incorrecta (É Fartar Vilanagem!) e uma morada de blogue. Foi lá que encontrei um diário gráfico da feira e este retrato do Capitão Ahab, entre outras coisas que ressaltam no fundo negro do Maria Macaréu.

MAIS CULTURA, SFF


Com a pouca disponibilidade permitida pelas circunstâncias, acompanhei diariamente o novo jornal – i – na primeira semana de vida. Gostei do arejamento no formato e no grafismo; gostei do conceito que preside à revista de sábado (melhor no tema dos «românticos» do que nos «coscuvilheiros»); gostei de encontrar as reportagens de Sónia Morais Santos e as crónicas de Filipe Nunes Vicente; gostei da aposta em novos colunistas diários, embora só Cristóvão Gomes, na área de banda desenhada, me tivesse dado algum gozo; gostei dos exclusivos made in The New York Times; gostei, enfim, da proposta de um novo jornal diário numa época pouco amistosa para a profissão. Tenho reservas em relação à originalidade do título; desde logo, porque não facilita as citações (“Li no i” soa muito mal). Não gostei da fotografia nem do título de capa do primeiro número; que, por ser o primeiro, soa sempre como um statement: “Sindicatos, patrões e governo: todos querem menos imigrantes.” Será mesmo? Há muitas páginas de desporto e pouquíssima ênfase na cultura, seja qual for o género jornalístico praticado. Uma página de livros para toda a semana parece-me somítico; e é claro que não sobrará espaço para a literatura infantil, o que é pena. É verdade que Hélder Beja e Tiago Guerreiro da Silva assinam uma extensão da área dos livros em blogue, mas não é bem a mesma coisa. Chama-se ContraCapas e já está ali na lista dos blogues ao sol. Quem ainda não conhece, não perca mais tempo e ponha já nos favoritos.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

NA ESCOLA LIMA DE FREITAS


Apesar do sol e da boa vontade, o tempo anda escasso para a jardinagem bloguística… e não promete melhorar a curto prazo. Mas não posso deixar passar em branco a minha ida recente à Escola Lima de Freitas, em Setúbal, onde no mesmo dia falei com alunos do 1º e do 2º ciclos. Estes últimos fizeram um trabalho fantástico à volta de O gato e a Rainha Só – desde desenhos e pinturas a colagens com tecido, passando por leitura encenada, música e marionetas. Reparem nesta Rainha Só, com o pormenor delicioso do gato pregado no vestido.

Tive também direito à apresentação de uma mini-biografia em power-point que incluiu imagens da infância e adolescência (o que eles se riram ao ver o meu cabelo na década de 1980…), além de uma música dos Boney M., grande paixão musical dos meus 10 ou 11 anos. Não sei se quero que os meus livros dêem tanto trabalho, como no outro dia dizia António Torrado, mas espero que ao menos se tenham divertido. A equipa da biblioteca escolar e as professoras das turmas envolvidas fizeram uma excelente preparação e acompanhamento da leitura do livro – e só me resta agradecer-lhes. Assim vale a pena ir às escolas.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O NOVO LIVRO DA BRUAÁ


O Ponto, de Peter H. Reynolds, é o quarto título editado pela Bruaá. Amanhã, há lançamento e mais coisas na Feira do Livro de Lisboa. Fiquem atentos ao site.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

FIRMIN E O FRACASSO


No blogue Desesperada Esperança, Bruno Alves diz que eu não sei “o que é ter 15, 20 ou 30 anos”, referindo-se ao meu texto sobre Firmin, de Sam Savage, publicado na LER nº 79. A passagem que lhe suscitou o comentário foi esta:

“Um livro para adolescentes? Não exactamente. Apenas pela simples razão de que aos quinze, vinte ou mesmo trinta anos a possibilidade de um grandioso fracasso é uma noção demasiado estranha.”

Posso garantir ao Bruno que não passei directamente dos 4 para os 40 anos. Tudo o que eu queria dizer não coube em 2500 caracteres, mas ficou explícito aqui. Recupero o essencial:

“À segunda leitura, percebi que Firmin não é (sem deixar de poder ser) um livro para adolescentes. Não por causa das muitas referências literárias que contém, mas apenas porque a impressão do fracasso não deve – ou não deveria – fazer parte do mal-estar adolescente. O sentimento de inadaptação das personagens poderá calar fundo em quem tem 16 anos, ou perto disso, mas a sensação de que existe todo o tempo do mundo para o resolver deverá ser total e avassaladora. Só mais tarde, na chamada idade adulta, conseguimos perceber como estávamos enganados quanto à reversibilidade das coisas – e persistir adequadamente nesse engano, porque na verdade não há muito mais a fazer. É por isso, e apenas por isso, que Firmin não é um livro para adolescentes.”

BLUEBERRY GIRL


Booktrailer do novo picture book de Neil Gaiman, lido pelo próprio – com um certo shakespearean touch. Ilustrações de Charles Vess. Para ver no blogue Children’s Illustration.

RECUPERAR A PERSPECTIVA

“Que, até ao fim da vida, era isto que eu queria fazer: viajar todos os dias. Mesmo estando quieto, mesmo atrás da mesma secretária escrevendo as mesmas palavras às mesmas intermináveis horas; estarei eternamente em viagem. Porque já perdi demasiado tempo, vou ao armário buscar as minhas malas surradas e velhinhas; vou comprar um bilhete para a vida; e, depois, cheio de esperança e de coragem, vou entrar em cada avião que passa como se só houvesse um sentido, como se nunca se chegasse a parte alguma, como se a viagem fosse na realidade o destino porque todos os dias são dias de partida.”

Um belo texto do João Tordo sobre a escrita e tudo o que existe à volta. Ler aqui.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

UMA HISTÓRIA COMPLETA


– Olá, Papá – disse o Duarte.
– Agora não, Duarte – disse o pai.
– Olá, Mamã – disse o Duarte.
– Agora não, Duarte – disse a mãe.
– Há um monstro no jardim e ele vai comer-me – disse o Duarte.
– Agora não, Duarte – disse a mãe.
O Duarte foi para o jardim.
– Olá, monstro – disse ele ao monstro.
O monstro devorou o Duarte, até ao último bocadinho.
Depois o monstro foi para dentro de casa.
– GRRR – rugiu o monstro atrás da mãe do Duarte.
– Agora não, Duarte – disse a mãe do Duarte.
O monstro mordeu o pai do Duarte.
– Agora não, Duarte – disse o pai do Duarte.
– Tens o jantar pronto – disse a mãe do Duarte.
A mãe pôs o jantar em frente da televisão.
O monstro comeu o jantar.
Depois esteve a ver televisão.
Depois leu uma banda desenhada do Duarte.
E partiu um brinquedo do Duarte.
– Vai para a cama – disse a mãe do Duarte. – Já te levei o leite para cima.
O monstro subiu as escadas.
– Mas eu sou um monstro – disse o monstro.
– Agora não, Duarte – disse a mãe do Duarte.

(Agora Não, Duarte, de David McKee, Caminho, 2000)

IGUALDADE PARA TODOS

Parece que a moda de processar jornalistas está para ficar. E já chegou aos modelos pré-mamã e licença de parto.

COMO CONVÉM

“Cheguei a uma conclusão: a Ler é uma revista feita por homens, sobre homens e para homens. Poucas são as mulheres que colaboram com a revista: a Felipa Melo, a Inês Pedrosa, a Carla Maia de Almeida que, como convém, escreve sobre livros de criancinhas.”

(… e o meu nome agora vem escrito a bold cor-de-rosa, ó suprema ignomínia.)

terça-feira, 12 de maio de 2009

FOLSON PRISON BLUES


Passou no último fim-de-semana do Indie Lisboa: Johnny Cash at Folson Prison, um documentário de Bestor Cram sobre o concerto na prisão de alta segurança californiana, a 13 de Janeiro de 1968, na origem de um dos mais míticos registos ao vivo de sempre, mesmo não havendo gravação filmada. As imagens captadas pelo fotógrafo da prisão, os testemunhos de músicos e muito material de arquivo servem de matéria-prima a um filme que reconstitui o antes e o depois de um dia extraordinário na vida das centenas de presos que assistiram à actuação do man in black. Bestor Cram elege duas histórias de antigos reclusos, eventualmente exemplares: a que tinha mais probabilidades de dar certo terminou num suicídio. Nem a música garante a salvação, nem Johnny Cash era pessoa “que pudesse salvar alguém”, como se diz a dada altura. Dispensando idolatrias ou rasteiras, o documentário mostra um homem à altura dos seus demónios, que sem nunca ter estado preso (um dos mitos desfeitos) conseguiu chamar a atenção para o sistema prisional norte-americano e contribuir para as reformas de 1970. Em Folson Prison realizaram-se 93 execuções por enforcamento até finais dos anos 1930; a maioria revelou que “o pescoço se partiu entre a quarta e quinta vértebra”, sinal de “boas execuções”, segundo um guarda ouvido no documentário.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

SAUDADES DAS PERSONAGENS


Percebemos que as personagens que criámos não nos pertencem quando damos por nós a ter saudades delas, para descobrir logo a seguir que não podemos fazer nada para as recuperar e trazer de volta ao papel. Se é um facto que podemos transformar as sequelas em histórias, nem por isso é verdade que todas as histórias possam ter uma sequela. A liberdade das personagens começa onde a do autor acaba. É justo, afinal.

Ilustração original a aguarela de Júlio Vanzeler para O gato e a Rainha Só (um bocadinho cortada em baixo porque o scanner não dá para mais).

MALDITAS DIOPTRIAS


São livros como este que põem em causa uma ideia em que muito boa gente ainda acredita, sem ter em conta a enorme evolução dos picture books nos últimos anos: nem sempre as ilustrações traduzem aquilo que o texto diz; às vezes, mostram justamente o contrário. O Meu Gato é o Mais Tolo do Mundo, de Gilles Bachelet (Caminho), descreve o quotidiano de um estranho animal doméstico, cujo dono parece padecer de uma doença neurológica: é incapaz de reconhecer o bicho que tem diante dos olhos. "Um amigo ofereceu-me recentemente um livro sobre gatos", diz ele. "Não consegui determinar exactamente a que raça pertence o meu." O registo move-se entre o cómico e a paródia, com o próprio autor a colocar-se na história, brincando com o seu estatuto e as suas capacidades artísticas. Como diria Oliver Sacks, este é o homem que confundiu o seu gato com um elefante. Ou vice-versa. Um must.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

CITY-BREAKS: CALDAS DA FELGUEIRA


A coisa está de tal maneira que já só lá vou com uma ida às termas, para recuperar. O jardim fica em pousio até domingo. Au revoir!

AMANHÃ NA FEIRA DO LIVRO


A ideia parte da editora Quimera e começa por um workshop com entrada livre sobre diários gráficos – sexta-feira, dia 8 de Maio, às 18h00, na Esplanada Central –, coordenado por Eduardo Salavisa, José Louro, Mónica Cid e Pedro Cabral. Podem participar alunos e professores do secundário, e toda a gente que gosta de desenhar.

Depois, vem a parte mais entusiasmante. Haverá um sorteio de 30 cadernos em branco, a partir dos quais os “desenhadores” participantes serão convidados a elaborar o seu Diário Gráfico da Feira – a entregar até 13 de Maio. Os melhores trabalhos serão seleccionados por Eduardo Salavisa, para serem publicados no seu blogue e na revista LER. Recorde-se que Eduardo Salavisa, professor e desenhador, é o autor do livro Diários de Viagem, publicado recentemente pela Quimera e já em segunda edição. O seu trabalho pode ser acompanhado no blogue Diário Gráfico.

LÁPIS MÁGICO


A não perder, absolutamente, a exposição itinerante “Magic Pencil”, que já passou pelo CCB há uns tempos e está agora na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, em Santiago do Cacém. Uma selecção rigorosa de 13 ilustradores britânicos, pela mão de Sir Quentin Blake, acompanhada por muitos livros em inglês, horas do conto, ateliers e visitas guiadas. Para ver até 30 de Maio.

terça-feira, 5 de maio de 2009

SÃO ROSAS, SENHORES


As Rosas Inglesas – Amigas para Sempre!
Madonna
Ilustrações de Jeffrey Fulvimari
Dom Quixote

Em Setembro de 2003, Madonna apresentou-se ao mundo como autora de livros infantis, «histórias morais» (sic) sobre a inutilidade da inveja, do ciúme, da ganância e outros males. Cruzamento de Oliver Twist com as Spice Girls, As Rosas Inglesas foi o primeiro dos cinco álbuns portadores desta «mensagem», rapidamente convertidos em best-sellers (estava escrito nos manuais de marketing). Seis anos depois, mantém-se o estado de graça. Nem o tempo nem o consumo crónico de gelados e batatas fritas afectaram as silhuetas andróginas destas meninas, outra vez recortadas em formato warholiano por Jeffrey Fulvimari. Permanecem no limbo da primeira adolescência, felizes na sua escola de Hampstead, com os seus lip gloss e os seus ipods. Amy, Binah, Grace, Charlotte e Nicole, cada uma representa um estereótipo (a estudiosa, a desportista, a fashion victim…) que reverte para a força do grupo, propondo modelos de identidade que quase assustam pela candura. Primeiro de quatro volumes em pequeno formato, Amigas Para Sempre! é a introdução, em forma de diário, ao mundo perfeito com que sonham as gatas borralheiras.

(Texto publicado na LER nº 80)

CARPINTARIA LITERÁRIA


Já falta pouco para começar o VII Encontro de Literatura Infanto-Juvenil de Pombal – “Caminhos de Leitura”. A quem não puder estar presente, nos dias 8 e 9 de Maio, recomendo um passeio e uma visita à exposição/instalação de José Antonio Portillo, que transitou da Biblioteca de Beja e estará em Pombal até 23 de Junho. Portillo fará duas visitas guiadas, para explicar este seu itinerário tão particular de construção de histórias, mas quem fizer o percurso por si pode parar e voltar atrás quantas vezes quiser. Ver o programa completo aqui e mais informações no blogue O Livro Infantil.

LER Nº 80


No número de Maio, finalmente, os resultados dos prémios de edição Ler/Booktailors. A melhor capa de infanto-juvenil, categoria em que também surgiu o Não Quero Usar Óculos, foi conquistada (e muito bem) pelo livro Coração de Mãe, da Planeta Tangerina. Os vencedores de todas as categorias podem ser conhecidos no Blogtailors.

MÁS NOTÍCIAS ATRASADAS

Isto deixou-me triste. Isto também.

domingo, 3 de maio de 2009

SCHOLASTIC NA FEIRA DO LIVRO DE LISBOA


Uma das surpresas deste ano na Feira do Livro de Lisboa é a representação da Key 4 Kids, distribuidora da editora Scholastic em Portugal, com stand na dita Praça Infantil. Muitos e bons picture books e livros para adolescentes – de Leo Lionni a Kate DiCamillo, de David Shannon a Katherine Patterson, de Megan McDonald a Harper Lee –, todos em capa mole, ao preço médio de sete euros. Não sei se estão a ver: sete euros. Enquanto os “bifes” fazem livros baratinhos, cá o portuga endinheirado continua a comprar os mesmos livros em capa dura a 12 e a 15 euros… ‘Tá certo.

Quanto ao senhor Roald Dahl (vénia, vénia), edição revista e acrescentada da autobiografia ilustrada More About a Boy, achei-a por 11,50 euros no stand das Edições Tinta-daChina/Pó dos Livros, onde os clássicos da Penguin Books também são novidade, este ano. Afinal, nem tudo tem de ser “mais do mesmo”.

FEIRA DO LIVRO DE LISBOA: A PRAÇA INFANTIL, SFF?


O fim-de-semana não é bom conselheiro destas andanças, mas às vezes as coisas calham assim. Ontem à tarde, sob um sol implacável, a Feira do Livro de Lisboa estava a abarrotar de gente, tornando impossível qualquer aproximação séria aos novos stands – mais estilosos, mas com menos espaço para o que realmente interessa, é fácil de ver. Razão a António Guerreiro, que no Expresso desta semana faz um balanço sombrio do mercado editorial, referindo, a dado passo, que “dada a deficiente oferta das livrarias, a Feira do Livro era a única ocasião do ano em que apareciam à venda todos os livros das editoras”.

Não seriam “todos”, mas eram muitos. Agora, menos. E bastantes editoras optam mesmo por ter os tabuleiros laterais fechados – por razões logísticas, provavelmente. Numa incursão rápida, só tive tempo de percorrer o corredor do lado esquerdo, à procura de uma tal “Praça Infantil”. A coisa está de tal modo visível que quando cheguei lá acima ainda não tinha dado por nada. No micro-stand da APEL explicaram-me onde ficava. Lá tive de descer tudo de novo, até perceber (pelo mapa) que tinha alcançado o objectivo: uma clareira patrocinada por uma marca de café, a habitual banca de gelados, um estrado onde se agitavam três figuras de peluche e quatro stands dedicados ao livro para crianças: Minutos de Leitura, Gatafunho/Ana Paula Faria, Key 4 Kids e Edicare. O espectáculo da Orfeu Negro sobre O Livro Inclinado ainda não tinha começado. E a isto se resumia a “Praça Infantil”.

Atravessando para o outro corredor do Parque Eduardo VII, encontrava-se a Praça Jovem, onde o panorama era ainda mais elíptico, não fosse a presença de duas dezenas de raparigas a falar sobre a saga dos vampiros de Stephenie Meyer.

sábado, 2 de maio de 2009

DARTACÃO


O filme é divertido, mas a melhor piada é involuntária. Alguém devia explicar ao tradutor (ou tradutora) que D’Artagnan não é o Dartacão. Podia ser lapso, mas contei três vezes. É o que dá ver muito desenho animado quando se é pequeno.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O LEITOR TRABALHADOR


Em Fevereiro de 1979 começaram a sair os fascículos da série francesa Era Uma Vez… o Homem, ao preço de 25$00. Depois da televisão, acompanhei em papel a marcha intranquila da Humanidade e a coluna “O Cantinho do Autor”, um senhor de suíças e bigode grisalho chamado Albert Barillé, que surgia nas páginas finais da revista, antes dos “Passatempos”.

Ao longo de 26 semanas, segui a evolução da primeira célula e a extinção dos dinossauros, cacei com o homem de Neanderthal e construí cidades nos vales férteis do Próximo Oriente. Indignei-me com as leis misóginas do Código de Hamurabi, sem saber o queria dizer "misógino". Emocionei-me com a morte de Péricles e a condenação das crianças fracas ao abismo da Rocha da Tarpeia. Fiz parte do império de Carlos Magno, embarquei nos drakkars vikings, segui os construtores de catedrais góticas. Conheci a rota de Marco Polo, o reinado de Isabel I, a corte de Luís XIV, a Rússia de Pedro o Grande. Ouvi falar, pela primeira vez, de Diderot, Olympe de Gouges, Charlotte Corday, Danton, a condessa Du Barry e tantos outros. Estas coisas ficam. Ainda hoje me arrepio ao ler o balão que sai da boca de Madame Roland, ascendendo ao cadafalso com as mãos atrás das costas: “Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!!!” (assim mesmo, com três pontos de exclamação)

Guardei todos os números, alguns em melhor estado do que outros. E posso dizer que completei a colecção com o suor do meu rosto, em jeito de homenagem a este 1º de Maio, Dia do Trabalhador. Empenhados em ensinar-me o valor do dinheiro – ou qualquer coisa assim do género, que me servisse para a vida –, os meus pais firmaram um pacto: a troco de 25$00 (que aumentaram para 30$00 logo no n.º 5), eu lavava a louça do jantar, sob uma fiscalização bastante condescendente. Imagino que o negócio não me agradasse muito, na altura, mas a emoção de esperar cada revista nova com uma moeda no bolso ainda hoje perdura e não tem preço. E assim, inculcando uma certa noção filosófica de esforço, mérito e recompensa, cresci na convicção de que havia algo de heróico na leitura e que o conhecimento é um bem não sujeito às oscilações do mercado. Não há maneira de me livrar disto.