sexta-feira, 14 de novembro de 2008

PORQUÊ WINNIE-THE-POOH?


Uma das minhas compras na Hodges Figgis foi Why Not Catch 21?, de Gary Dexter (ed. Francis Lincoln Limited, 2007), um inventário curioso das razões mais ou menos prováveis que estão por trás da escolha de um título. Catch 22 (Artigo 22, na tradução portuguesa) esteve para ser Catch 18, mas uns meses antes da publicação saiu um livro chamado Mila 18, também passado na Segunda Guerra Mundial, e Joseph Heller viu-se obrigado a alterar o título. “Partiu-me o coração. Achava que 18 era o único número”, disse mais tarde, numa entrevista à Playboy. Houve mudanças que vieram por bem: ninguém acredita que O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, um dos títulos mais parafraseados da História, tivesse na sua génese um anódino Bar-B-Q, que constituiu uma embirração inultrapassável para o editor de James M. Cain – felizmente para ele. Há casos em que a escolha do autor se deve mais às suas obsessões, sempre aleatórias (“A personagem de Ulisses fascinou-me desde rapaz”, escreveu Joyce), e outros em que as circunstâncias tiveram o seu peso. Quando Mary Godwin e Percy Shelley viajaram pela Europa, em 1814, encontraram, semi-arruinado, o Castelo Frankenstein, outrora morada de um alquimista expulso da Universidade de Estrasburgo por profanação e roubo de cadáveres. É uma possibilidade. Se há títulos sobre os quais surgem explicações plausíveis – como Moby Dick, inspirado numa baleia de carne e osso que fez notícia na imprensa, Mocha Dick –, outros fecham-se num enigma sem resolução à vista. À Espera de Godot é o que “convida ao maior desespero de todos”, diz o autor de Why Not Catch 21? Quanto a Winnie-the-Pooh, o clássico de A. A. Milne, foi também uma questão que perseguiu o escritor, ao ponto de este achar que quando uma crítica começava por interrogar o nome da personagem, só poderia ser má. Hipótese um: Winnie era o nome de um urso (ou melhor, uma ursa) que então vivia no Zoo de Londres. Hipótese dois: o filho de A. A. Milne, Christopher Robin, tinha uma espécie de cisne de estimação a que chamava “Pooh”, e que também poderá ter estado na origem do nome. Quem sabe? Logo no primeiro capítulo, o próprio autor não parece disposto a resvalar em conclusões:

“É Joanica-e-Puff. Não sabe o que quer dizer e?”
“Ah, sim, agora já sei”, disse eu muito depressa; e espero que vocês também, porque não vão receber mais nenhuma explicação.”

Agora, porquê a tradução em português de Winnie-the-Pooh para Joanica-Puff, também nós gostávamos de saber…
(ilustração de E. H. Shepard para a edição de Joanica-Puff, Editorial Minotauro)

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