domingo, 28 de setembro de 2008

HERÓIS INFANTIS


Ser fã penitente das histórias da Mônica e do Cebolinha não impediu que lesse o Cândido, de Voltaire, quando tinha oito ou nove anos. Alheia às questões filosóficas, li-o várias vezes, como um livro de aventuras, onde não faltavam actos de pirataria, violações, canibalismo e mortes terríveis. O tipo de coisas que fazem a caridosa Sarah-"Barracuda"-Palin espumar de raiva, se não andar demasiado ocupada a esquartejar alces. O meu pai, entre o espantado e o divertido, nunca me tirou o livro das mãos – nem esse, nem outro –, com o pretexto de que não era “adequado” para a minha idade. Independentemente da leitura que dele se possa fazer, um livro passa a ser adequado a partir do momento em que uma criança o escolhe – e o lê até ao fim. A propósito da recente polémica em Inglaterra, estou do lado dos autores. Admito que um livro para crianças possa conter uma sugestão de faixas etárias, mas sou contra as etiquetas na capa, preguiçosamente simplistas.

Ler Cândido não chegou para fazer de mim uma optimista, mas continuo a impressionar-me com as peripécias da menina Cunegundes e companhia. E guardei do meu herói aquela frase final, um ensinamento prático para todas as horas: “Tudo isso é muito bonito – respondia Cândido –, mas o que é preciso é cultivar o nosso jardim.” Ora bem.

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